Cartas de Gestão #50

Rentabilidade da fazenda e o custo de oportunidade

26 de março de 2021
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RENTABILIDADE DA FAZENDA E O CUSTO DE OPORTUNIDADE
Chegamos na edição número 50 dos nossos textos semanais que leva o nome de Cartas de Gestão. Já são 50 semanas escrevendo sobre diversos temas que de algum modo eu espero que te ajudem na administração da sua fazenda.

E para essa edição eu gostaria de falar sobre algo especial.

Então nada mais justo do que falar sobre rentabilidade e custo de oportunidade na fazenda. Em linhas gerais, este é o cerne de tudo.

Estas duas coisas estão diretamente ligadas. É como se fossem partes que se unem. De certa maneira, quando você olha para uma sem olhar para a outra, estará olhando de forma incompleta.

Toda vez que vamos analisar algo precisamos definir o referencial de análise. Ou seja, qual será a nossa régua.

E para analisar a rentabilidade da fazenda podemos escolher várias opções de "réguas", mas sem sombra de dúvidas, a melhor régua vai ser o custo de oportunidade do capital do produtor.

Estamos falando aqui sobre ganhar dinheiro, ok? Querendo ou não todas fazendas precisam ter isso como foco. São empresas como qualquer outra e precisam de lucros para sobreviver.

A rentabilidade pode ser calculada de formas diferentes. Isto é, existem diferentes tipos de rentabilidade. E é importante você compreender essas diferenças para realizar uma correta análise.

As duas rentabilidades mais importantes - ou mais comuns - são chamadas de ROE e ROI, Retorno sobre o Patrimônio Líquido e Retorno sobre o Investimento, respectivamente. Para entender a diferença entre elas, clique aqui.

Quando nós falamos sobre rentabilidade e utilizamos somente o termo "rentabilidade" ou "retorno" nós estamos nos referindo ao ROE. Quando falamos dos outros tipos de rentabilidades nós iremos especificar de qual estaremos falando.

Portanto, neste texto estamos tratando do ROE.

E por qual motivo você precisa compreender isso?

Bem, pode ser que você já enxergue dessa forma e pode ser que ainda não enxergue, mas querendo ou não, a sua fazenda é um investimento que você fez. A sua fazenda é um patrimônio. E este capital está investido no agronegócio.

"Ah Gabriel, mas não foi eu quem fiz esse investimento! Foi meu pai, uns 20 anos atrás!".

Não importa. A cada dia que você segue sendo produtor rural é uma DECISÃO que você está tomando (mesmo que sem pensar) de SEGUIR INVESTINDO na fazenda.

Você poderia muito bem vender a fazenda e investir o dinheiro em outro negócio. Ou vender a fazenda e gastar todo o dinheiro.

Ou seja, a cada dia que você escolhe não vender a fazenda é um escolha de seguir investindo nela.

E todo investimento precisa gerar algum retorno, certo? Não faria sentido fazer um investimento que não fosse gerar retorno. Do contrário, seria preferível gastar o dinheiro.

Isso é claro nas decisões econômicas. Se você tem mil reais hoje, por exemplo, você tem duas opções: ou você gasta (valoriza mais os benefícios no momento atual) ou você poupa/investe (valoriza mais os benefícios em um momento futuro).

Portanto, se você segue investindo na fazenda, você espera que esse investimento te gere algum benefício no futuro e, geralmente, é um benefício financeiro. Ou seja, você quer que esse investimento na fazenda gere lucros.

Então você trabalha o ano todo, batalhando para conseguir algum lucro. Esse lucro que a fazenda der (e aqui estamos falando do lucro líquido, ok? Assim como temos diferentes tipos de rentabilidades também temos diferentes tipos de lucros) precisa ser analisado se ele foi compensatório!

Ou seja, se compensou você seguir investindo na fazenda!

E você só vai conseguir analisar se compensou se souber o quanto esse lucro representa de rentabilidade em relação ao patrimônio da fazenda (Patrimônio Líquido, por isso utilizamos o ROE) e comparar com o custo de oportunidade do seu capital.

Portanto, você precisa primeiro encontrar essa rentabilidade. E para isso basta dividir o Lucro Líquido pelo Patrimônio Líquido. O valor que resultar dessa divisão você irá multiplicar por 100 e vai encontrar a rentabilidade em porcentagem. Para ver mais sobre como calcular o ROE, você pode assistir este vídeo.

Vamos supor que em determinado ano, a fazenda tenha tido um ROE de 5,5%.

Perceba que nós nem falamos em quanto de lucro ela deu no ano! Se ela deu 50 mil reais de lucro no ano ou 500 mil reais, nós temos que respeitar as proporções. Pode ser que a fazenda que lucrou 50 mil reais seja mais rentável do que a que lucrou 500 mil.

Óbvio que 500 sempre será maior do que 50. Mas se os 500 mil reais de lucro no ano representar somente 1% de ROE e os 50 mil reais representar 15%, a fazenda de 50 mil de lucro foi MUITO melhor do que a de 500 mil.

É nesta ótica que devemos analisar se a rentabilidade foi boa ou ruim. E para isso utilizamos a "régua" do custo de oportunidade.

O custo de oportunidade nada mais é do que um custo comparativo. Tem muita gente que coloca o custo de oportunidade nas contas do custo de produção. Basicamente quem utiliza a metodologia de COE, COT e CT (que eu não recomendo que você use), coloca o custo de oportunidade nas contas.

Eu acho isso desnecessário. Não é que esteja errado. Simplesmente acho sem sentido, dado que o custo de oportunidade é meramente comparativo, ou seja, para você comparar o lucro da fazenda.

Existem diversos fatores que podem e devem ser analisados para definir este custo de oportunidade. Não iremos aprofundar nisso hoje porque o texto já está ficando muito longo.

Mas vamos simplificar tudo utilizando a poupança como exemplo. Você poderia muito bem vender a fazenda, pegar todo dinheiro da venda e colocar na poupança. Essa dinheiro na poupança iria gerar algum rendimento.

A soma desses rendimentos ao longo de um ano seria o custo de oportunidade da fazenda. Hoje (26/03/2021) a poupança está com um rendimento estimado de míseros 1,92% ao ano.

Se a fazenda do nosso exemplo apresentou um ROE de 5,5% no ano, significa que foi maior do que o custo de oportunidade (neste caso!) e que foi uma ótima decisão investir na fazenda.

Mas saiba que a poupança já rendeu mais do que isso. Em 2015, por exemplo, ela rendeu 8,15%. E aí, neste ano, um ROE da fazenda de 5,5% perderia deste custo de oportunidade e, portanto, teria sido uma decisão ruim seguir com o investimento na fazenda.

Como lidar com isso então?

Analisar o longo prazo (sempre ele!). Pegue o ROE acumulado da fazenda ao longo de 10 anos por exemplo e o custo de oportunidade acumulado ao longo dos mesmo 10 anos e avalie se está compensando seguir investindo na fazenda.

E, para finalizar, preciso comentar que a poupança é uma péssima métrica para utilizar como custo de oportunidade. Utilizamos ela somente de forma didática, pois acredito ser mais fácil de entender.

Para saber qual o custo de oportunidade mais adequado para a sua fazenda é preciso analisar diversos fatores, tais como: a taxa Selic, o rendimento médio comparável de outras fazendas, o rendimento médio de outros tipos de negócios, o custo do capital de terceiros, o rendimento médio de outras aplicações financeiras e assim vai, conforme ensinamos no Gestão Profissional de Fazendas.

Mas e a sua fazenda? Como está a rentabilidade dela? E você já sabe qual o custo de oportunidade mais adequado para o seu caso? Se sim, qual é? Me conte respondendo este e-mail. Será um prazer trocar uma ideia com você quanto a isso.

Autor
Gabriel H. Lima
Eng. agrônomo e fundador da Maja Consultoria