Cartas de Gestão #38

Você vai passar para confinamento. É só questão de tempo...

18 de dezembro de 2020
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VOCÊ VAI PASSAR PARA CONFINAMENTO. É SÓ QUESTÃO DE TEMPO...
Peço perdão ao pessoal da agricultura hoje, pois o foco será maior na pecuária. Entretanto, a ideia geral do texto pode ser aproveitada por todos, pois no fundo é algo estrutural do agronegócio como um todo.

Mas, o fato é que eu te afirmo que se você for produtor de pecuária e não estiver trabalhando com confinamento, você vai ser obrigado a mudar. É só uma questão de tempo.

Quanto tempo? Não faço a mínima ideia.

Pode ser daqui a 2 anos pode ser daqui a 50 anos. Mas isso é um fato.

E qual o motivo que me faz dizer uma coisa dessas?

Simplesmente por uma questão de custos. Enquanto o custo da dieta à pasto for menor do que o custo da terra, ok. Estará valendo a pena o sistema extensivo.

Mas em algum momento isso vai acabar mudando.

Em algumas regiões do Brasil já é completamente inviável ter qualquer produção extensiva. Dado o custo da terra.

Em outras ainda existe alguma viabilidade. Mas com o tempo, a tendência é que essa viabilidade vá deixando de existir.

A conta que devemos fazer é simples.

Suponha que você produza em uma determinada área. Esta área possui um custo (mesmo se for terra própria ela tem custo, conforme já salientado no artigo "Quanto a terra está custando no seu lucro econômico?" da série Gestor Rural em que você pode acessar e baixá-lo por aqui) e quanto maior for o valor da terra, maior será esse custo.

Ou seja, você tem uma determinada área e vai produzir pecuária nesta área de forma extensiva. Você terá todos os custos (incluindo o custo da terra) para gerar um faturamento lá no final. Esse faturamento menos todos os custos vai te dar o lucro da fazenda, que por sua vez, vai representar uma determinada rentabilidade.

O "problema" começa a surgir quando a terra passa a se valorizar mais e mais. Coloquei entre aspas, porque se for terra própria isso não será nenhum problema, né? Mas caso contrário, para quem arrenda, será.

Nesse caso, o custo da terra vai ser cada vez maior e aqui será um problema de toda forma. Seja terra própria ou não.

Dado este custo maior, para que haja uma manutenção dos níveis de rentabilidade do negócio será preciso elevar o faturamento ou reduzir outros custos.

Mas quando chega numa situação assim, geralmente, acontece algo natural. O gestor da fazenda começa a pensar: "poxa, já estou produzindo nesta área, será que não dá para produzir mais nesta mesma área?".

E aí que começamos a notar que só existem duas saídas: ou confina ou sai do ramo.

Obviamente, há uma terceira alternativa: seguir no ramo, com rentabilidades cada vez menores.

No artigo da série Gestor Rural em que citamos acima, nós apresentamos um gráfico muito interessante para que seja possível entender a ideia por trás disso. Reproduzo-o aqui embaixo:

Percentual que o custo da terra consome do lucro econômico

Fontes: AgriBenchmark, Série Gestor Rural | Elaboração: Maja Consultoria

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Note que em países já mais desenvolvidos como Estados Unidos e Alemanha, o custo da terra possui um peso bem relevante. Chegando a 90% em determinada região norte-americana e destacada em vermelho no gráfico.

A Argentina surge como um país não tão expressivo em termos de desenvolvimento (atualmente, passando por maus bocados), mas que já possui um custo da terra elevadíssimo.

No Brasil, de maneira geral, ainda estamos em um nível razoável. Com o custo da terra pegando ali por volta de 40% do lucro econômico. Mas conforme o país for se desenvolvendo é natural que este custo vá aumentando.

Diante deste cenário, a conclusão mais lógica que podemos chegar é que a produção pecuária extensiva possui a tendência de deixar de existir. Simplesmente por uma mera questão econômica.

"Ok, mas o que eu faço hoje?", você pode estar se perguntando.

Bom, é preciso que você analise a sua realidade atual e faça as contas sobre o seu negócio atualmente. Se ainda estiver possuindo viabilidade econômica e com isso eu quero dizer uma viabilidade que seja ATRATIVA, pois de nada adianta ter um certo nível de lucro se este lucro não for compensatório, acredito que você deva seguir no sistema atual, mas já com a cabeça de que é interessante ir migrando aos poucos para o confinamento.

"Ah, mas confinamento tem um risco muito maior!", concordo plenamente.

Mas lembre-se sempre daquele balanço de risco e retorno. Vale a pena um risco menor para ter um retorno pouco atrativo ou, até mesmo, não ter retorno?

O problema não é correr riscos, o problema é quando se corre riscos desnecessários ou sem saber que está correndo.

E, por isso, um certo tipo de movimento gradual ou mescla dos dois sistemas (semi-confinamento) pode ser interessante.

Enfim, o fato é que a terra é o principal ativo para nossos negócios rurais. E por características intrínsecas, este é um ativo que tende a sempre se valorizar (salvo duas exceções: zonas de conflito e presença de erosão). Sendo assim, com o passar do tempo, esta valorização das terras resulta em um maior custo com a terra.

Nosso trabalho como gestor é encontrar saídas e criar soluções para que o negócio tenha bons desempenhos (lucros!) e, nesse caso, a saída mais direta é produzir mais no mesmo espaço.

Um grande abraço e não fique tímido, caso tenha alguma dúvida ou esteja com algum desafio na fazenda, entre em contato. Quem sabe não posso te ajudar?

Autor
Gabriel H. Lima
Eng. agrônomo e fundador da Maja Consultoria

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