Podemos resumir o caixa da fazenda como aquele dinheiro disponível na conta bancária da fazenda.
E sendo assim, já podemos concluir que este é um fator de extrema relevância para um bom desenvolvimento do negócio e que o gestor deve sempre ficar atento ao caixa.
Isso me causa um pouco de espanto, pois muitos produtores ainda tocam seus negócios sem saber qual é a posição de caixa da fazenda.
E o fato é que, recentemente, estive conversando com um colega justamente sobre gestão de caixa e como, no momento atual, está havendo uma urgência para se livrar do caixa.
Explico.
Sem querer entrar em maiores complexidades, o caixa da fazenda é um capital. E como todo capital, ele deve estar rendendo. Ou seja, deve estar contribuindo para a rentabilidade do negócio. E uma boa gestão do caixa, baseada em princípios claros, deve ser aquela em que o caixa vai estar rendendo justamente o que rende a taxa Selic. E, atualmente, a Selic está em míseros 2% e ao que tudo indica, vai perder até da inflação, o que representaria um rendimento real negativo.
Daí a urgência para "se livrar do caixa". Um capital que não está rendendo nem acima da inflação? Vamos logo alocar esse capital em algo mais rentável!
Bom, o raciocínio parece certo. Na verdade, está certo mesmo. Mas, vamos devagar pois é preciso analisar alguns pontos.
Primeiro: muitos produtores não possuem uma gestão de caixa bem feita e o dinheiro acaba ficando parado em conta ou na poupança (a grande maioria dos produtores toca seu negócio na pessoa física). Ora, se o caixa está parado em conta ou na poupança, essa urgência não deveria existir, pois as duas situações são ainda piores do que quando o caixa está rendendo a Selic.
Segundo: o objetivo de possuir caixa não é conseguir rendimentos! O retorno do negócio não deve vim do caixa, mas sim das operações da fazenda! Há 3 objetivos para se possuir caixa: bancar o processo produtivo; aproveitar oportunidades de bons negócios; e cobrir eventuais imprevistos. Simples e claro. O rendimento que podemos conseguir com o caixa é um ADICIONAL e não deve ser visto como objetivo. Portanto, se as atuais condições de juros e inflação brasileira resultarem em um rendimento real negativo com o caixa, fazer o que? Faz parte do negócio.
Isso quer dizer que o caixa da fazenda deve estar alocado da mesma forma em qualquer cenário. Ou seja, rendendo a Selic.
Não é porque o rendimento está baixo que o gestor da fazenda deve procurar qualquer tipo de alternativa para alocar o caixa em alguma opção aparentemente mais rentável.
O caixa estar rendendo pouco não é motivo para investir em máquinas, em mais gado ou em novas construções. É claro que as atuais condições de juros podem favorecer tais negócios. Uma taxa de desconto menor, representa uma viabilidade maior. Mas isso não deve ser O motivo para alocar o caixa em outras opções.
Entretanto, tais fatores descritos acima são motivos sim para evitar - no momento atual - EXCESSO de caixa. Mas, como saber se há excesso de caixa? E aqui que vem uma grande sacada que eu e meu colega tivemos em nossa conversa.
Talvez seja interessante nós adotarmos uma espécie de "sistema de limites" para gerenciar o caixa.
O gestor da fazenda definiria um certo nível de "caixa ideal" e um nível de "caixa mínimo". Com estes dois níveis definidos, as decisões seriam tomadas da seguinte maneira: se o caixa está entre o mínimo e o ideal, toma-se decisão por alocar capital para o caixa; se o caixa estiver no nível ideal ou acima, toma-se decisão por alocar capital em outras opções.
Simples, claro e direto.