Cartas de Gestão #31

Relação de troca: como usar este indicador

30 de outubro de 2020
______
Este texto foi, originalmente, enviado no e-mail de nossos leitores na newsletter Cartas de Gestão, que enviamos semanalmente com textos e conteúdos sobre gestão de fazendas.

Para receber em primeira mão os próximos textos e demais conteúdos sobre gestão rural, cadastre seu e-mail abaixo.
RELAÇÃO DE TROCA: COMO USAR ESTE INDICADOR
Eu acredito que seja bem provável que você já tenha visto em algum local uma espécie de indicador chamado de relação de troca.

Eu mesmo já vi vários. E temos tanto para pecuária quanto para agricultura. É a relação de troca de milho por leite, de milho por @, de tonelada de ureia por saca de milho, de quilo de bezerro por @ de boi e assim por diante.

A ideia por trás disso é uma tentativa de representar uma espécie de "poder de compra" do produtor. Eu preciso de quantos litros de leite para comprar uma saca de milho? Eu preciso de quantas @ para comprar um bezerro?

Com esse ponto de vista, faz total sentido. Realmente, é um indicador importante e que traz informações relevantes.

Mas do ponto de vista do gestor da fazenda, esse tipo de indicador deveria funcionar apenas como um comparativo.

O gestor da fazenda, se estiver fazendo um bom trabalho de controle de dados e análise desses dados, vai olhar para esses indicadores de Relação de Troca mais por curiosidade do que propriamente para tomadas de decisão.

E, veja: um indicador só faz sentido se ele puder servir para tomadas de decisão. Não há motivo para acompanhar qualquer indicador que seja se ele não servir para embasar alguma decisão sua.

E eu digo que ele vai olhar para esses indicadores somente por curiosidade, pois se ele estiver fazendo um bom trabalho, ele vai ter o seu próprio indicador de relação de troca da sua própria fazenda! Este é o ponto que eu trago para discussão hoje.

Estes indicadores que vemos em sites de notícias ou institutos de pesquisas, funcionam como um benchmark, um referencial. Na prática, ele é uma média do mercado. E médias, são médias! Metade dos valores vão estar acima da média e metade vão estar abaixo.

Trago abaixo um trecho do relatório de custos do leite publicados pelo CEPEA (que para mim é o instituto que faz o melhor trabalho de pesquisas de mercado) no mês passado:


"Tendo-se como base o preço do leite na 'média Brasil' e a média do milho nas regiões acompanhadas pela Equipe de Grãos do Cepea, de janeiro a agosto, o poder de compra do produtor leiteiro caiu frente ao mesmo período do ano passado. Entre janeiro e agosto de 2020, com a venda de um litro de leite, o produtor comprou, em média, 1,94 quilo de milho, sendo que, no mesmo período do ano passado, era possível adquirir 2,53 quilos com a venda de um litro de leite."


Ao ler isso, o que você tira de informação?

E mais, sendo você um gestor de uma fazenda de leite (ou de qualquer outra fazenda lendo um informativo sobre relação de troca na sua atividade), como você utilizaria esta informação na gestão da fazenda?

O correto seria você comparar o que o benchmark (referencial) te mostra com o que sua fazenda está apresentando de desempenho. Ora, se, em média, o produtor de leite comprou 1,94 quilo de milho com 1 litro de leite de janeiro a agosto de 2020, quantos quilos de milho sua fazenda comprou com 1 litro de leite no mesmo período? Esta é a questão!

Como gestor da fazenda, você precisa ter os próprios números da fazenda. E o que me deixa bastante intrigado é que acaba tendo muita interpretação errada das informações como a citada acima.

Não é que a informação esteja errada. Ela está corretíssima. Mas a forma como isso acaba sendo interpretado pelos produtores e gestores de fazendas é um pouco problemática. Ao que parece, muitos acabam lendo informações como essa e interpretam como sendo a realidade da sua própria fazenda! Mas, lembre-se, é uma média! E nesse caso, do Brasil!

O que você, como gestor ou gestora, deveria se questionar é qual é o valor deste indicador da minha empresa rural? E aí sim, você compara com o valor referencial do informativo e faz uma análise do desempenho da sua fazenda.

"Ah, Gabriel, mas eu nem compro milho grão para minha fazenda! O que eu faço então?"

Neste tipo de caso você pode desenvolver o seu próprio indicador de relação de troca com o principal insumo da sua propriedade, por exemplo. E eu acho isso muito interessante de ser feito.

Ou você pode também fazer as contas apenas para comparar com o referencial. No exemplo que demos, bastaria utilizar os preços que comercializou o seu leite de janeiro a agosto de 2020 e dividir pelos preços médios que o CEPEA considerou para o milho no mesmo período.

E para terminar, lembre-se que um indicador serve para te mostrar algo. Ele deve servir para que você consiga ter informações sobre algum determinado ponto da fazenda e que seja possível você tomar ações com base na análise desses dados.

Mas é importante também analisar o conjunto da obra como um todo.

E se este indicador de relação de troca ter piorado para a sua fazenda, mas os custos como um todo estarem menores do que nos últimos 12 meses? Ou se a produtividade aumentou e está favorecendo as margens?

Enfim, indicadores que são encontrados em institutos e outros órgãos, como a Relação de Troca, devem ser usados como benchmarks e não propriamente como a realidade da sua fazenda. Eles são médias e você precisa ter os próprios indicadores da sua empresa rural.

Você saberia dizer como estão os principais indicadores da sua fazenda com relação aos números do ano passado? Estão melhores ou piores? E qual o percentual de variação?

Se tem dificuldade com isso, me responda neste e-mail. Quem sabe não posso te ajudar.

Um forte abraço e ótimo final de semana,

Autor
Gabriel H. Lima
Eng. agrônomo e fundador da Maja Consultoria

Imagem