Cartas de Gestão Rural #72

Fazendas pegando fogo

03 de setembro de 2021
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Aqui em Goiás, nessa época do ano, acaba sendo comum presenciarmos diversas queimadas. Tanto em beira de estradas quanto nas próprias fazendas.

Ano passado inclusive, acabei tendo a péssima experiência de passar de carro no meio de um nevoeiro de fumaça provocado por uma queimada.

É uma sensação terrível. Você não enxerga absolutamente nada na frente e não sabe se acelera e corre o risco de bater em algo ou se vai mais devagar sofrendo com a fumaça e correndo o risco do motor apagar ou algo do tipo.

E ao contrário do que alguns defendem, as queimadas são extremamente prejudiciais para as fazendas. Alguns dizem que ela pode até melhorar a fertilidade do solo, mas isso é uma falácia tremenda. Existem formas muito mais inteligentes de melhorar a fertilidade do solo. Aliás, qualquer uma que não mate todos os organismos presentes no solo (que contribuem para a fertilidade!) já é melhor.

Mas enfim, o tema principal do texto de hoje não é este tipo de queimada.

Estou falando de uma que pode ser tão prejudicial quanto. Ou até mesmo mais prejudicial...

Estou falando das queimadas financeiras.

Quanto dinheiro sua fazenda vem queimando nos últimos anos?

Quantos recursos foram mal alocados ou simplesmente desperdiçados?

É importante fazer uma avaliação sobre isso.

Você pode, por exemplo, fazer o “mapa do dinheiro” na sua fazenda. Ou seja, você pode identificar para onde foram direcionados os recursos que entraram no negócio.

Quanto foi para despesas? Quanto foi para investimentos? Dentro da quantia que foi para as despesas, quanto foi para cada centro de custo? Como foram distribuídos os investimentos?

Eu já disse isso algumas vezes no passado e torno a repetir: para mim, a alocação de recursos é o principal diferencial entre fazendas que vão ter sucesso no longo prazo daquelas que não vão ter tanto sucesso assim ou mesmo aquelas que não terão sucesso nenhum!

E por ser o principal diferencial, você já pode imaginar o quão difícil é fazer isso.

Qual é a melhor alocação de recursos para uma fazenda?

Analisando o balanço, quanto ter em terras? Quanto ter em máquinas e implementos? Quanto em gado? Quanto em construções? Quanto em estoques? Quanto em caixa?

Você já fez essa análise na sua fazenda? Se não, por que não faz?

Essa distribuição do patrimônio afeta diretamente na rentabilidade da propriedade. E se afeta a rentabilidade, também afeta no lado dos riscos.

E passando para uma análise das receitas, com quanto conseguimos cobrir as despesas? Com o lucro gerado, quanto vamos destinar para novos investimentos? Com quanto vamos reforçar o caixa?

E ainda temos que pensar nos financiamentos, afinal de contas, uma retirada de lucros como dividendo para o produtor é algo que precisa ser pensado.

São muitas perguntas... mas não existem respostas definitivas.

O que fazer então?

Uma solução é olhar para o que já foi feito no passado e ver os resultados disso.

Ou seja, vamos ver como estava distribuído o patrimônio nos últimos anos em cada ativo (terras, máquinas, gado, construções, estoques, caixa etc.) e ver os resultados disso (quanto de rentabilidade a fazenda deu).

Agora vamos olhar para a distribuição de receitas, quanto do total está sendo para pagamento de despesas? Quanto está indo pra reforçar o caixa? Quanto foi para novos investimentos? E nessa configuração que encontrarmos, qual foi o resultado do ano?

Ok, e agora como podemos melhorar isso?

Precisamos reduzir riscos? Ou podemos afrouxar um pouco o controle de risco para tentar uma maior rentabilidade?

Imagine o exemplo de um produtor de pecuária que esteja pensando em fazer um investimento em irrigação de pastagens.

Ele viu algo na internet ou em algum grupo do WhatsApp, achou interessante e começou a imaginar o quanto isso poderia ser bom para a fazenda.

Então ele contrata uma empresa para fazer o projeto. Essa empresa possui profissionais altamente qualificados e que fazem o projeto e a análise de viabilidade econômica do projeto de maneira ímpar e impecável.

O resultado mostra que o projeto apresenta uma viabilidade interessante e bem atrativa.

Portanto, parece ser um bom investimento para a fazenda, certo?

Certo?

Mas será que é, efetivamente, o melhor para a fazenda deste produtor?

E se o balanço da fazenda já estiver altamente concentrado em ativos imobilizados? Será que imobilizar ainda mais é mesmo interessante?

E se a fazenda estiver com pouquíssimo caixa porque não foi tão cuidadosa com a alocação de lucros e manutenção do caixa, ainda assim o investimento continua interessante?

E se os indicadores de liquidez da fazenda, que vão nos mostrar a capacidade do negócio de honrar os compromissos estiverem ruins, isso não prejudicaria a atratividade do investimento?

O ponto é: nem sempre algum investimento viável vai ser o melhor para a sua fazenda. Pelo menos não naquele momento da análise.

Boa parte dos trabalhos que fazemos e do que ensinamos no curso Gestão Profissional de Fazendas (GPF) se trata justamente de analisar a fazenda de maneira completa.

Se vamos trabalhar com fazendas, seja sendo produtores ou profissionais atuando junto com os produtores para conseguir bons resultados, vamos trata-las como empresas e ter uma visão completa do negócio.

Quando começamos a realmente enxergar a fazenda como um NEGÓCIO passamos a fazer as perguntas certas e nos preocupar com as informações e indicadores certos e depois passamos para uma análise das informações para tentar responder estas perguntas.

Tudo isso só é possível se realmente encararmos a fazenda como um negócio e começarmos a fazer registros das informações de maneira adequada.

Toda fazenda, assim como todo negócio, pode ser melhorada em algum ponto. Basta querer melhorar e procurar como melhorar olhando para as coisas certas.

Um abraço,
Gabriel

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