Uma das grandes perguntas não respondidas sobre gestão de fazendas é: qual o peso da sorte no desempenho de uma fazenda?
Ou em outras palavras: o lucro anual da fazenda representa o resultado dela naquele ano. Esse seria 100% do resultado dela. Quanto desses 100% é fruto da competência do gestor e da equipe e quanto é fruto da sorte?
50% pra cada? A competência tem um peso maior? A sorte tem um peso maior?
Não são perguntas fáceis de serem respondidas. Pelo menos não de maneira imediata.
Mas uma coisa é certa: a sorte tem um papel extremamente relevante. E, de fato, existem até estudos científicos que corroboram isso.
Sempre quando penso nesse assunto, me lembro de Daniel Kahneman, autor de Rápido e Devagar (um dos melhores livros que já li) e as duas fórmulas que ele elaborou para o sucesso:
sucesso = talento + sorte
muito sucesso = um pouco mais de talento + muito mais sorte
E você até pode achar que não, mas isso tem muito a ver com o desempenho de uma fazenda.
Qualquer pessoa pode se aventurar a ser produtor/empresário rural. A verdade é que não existe tantos segredos e mistérios assim em criar animais e cultivar plantações.
Os seres humanos fazem isso a mais de mil anos, desde quando sequer existia algum tipo de conhecimento formalizado sobre o assunto.
E, supondo que mesmo que você não saiba absolutamente nada sobre criação de animais e plantio de lavouras, é totalmente possível que você comece nessas atividades e no final tenha um belo de um lucro.
E as chances de isso acontecer são até relativamente grandes.
Pode parecer injusto, mas é realmente possível que um produtor sem conhecimento nenhum sobre atividades agropecuárias e gestão de fazendas tenha um resultado muito superior a outro produtor que domine tanto a gestão quanto à produção.
Mas isso é a sorte atuando.
Se você repetir isso por um período de tempo maior ou com um maior número de amostras, é bem possível que você comece a encontrar uma situação mais adversa.
E aí chegamos no fator que é capaz de determinar quanto do resultado da fazenda é sorte e quanto é competência: o tempo.
Galileu Galilei já nos presentou com a sábia frase: “a verdade é filha do tempo.”
Quanto mais longo o período analisado, mais claro vai ficando o peso da sorte nos resultados. Ela sempre vai estar presente (ou ausente), é claro.
Produtores que ainda estão naquele velho sistema que eu chamo de “Produz & Vende” são produtores em que a sorte tem um peso maior nos resultados. Geralmente em anos bons, a fazenda vai muito bem. Mas nos anos de mercado em baixa, a fazenda patina e as contas ficam mais apertadas.
Neste tipo de caso temos mais inconsistência nos resultados.
Já com os produtores que se preocupam mais em desenvolver a fazenda como um negócio, com foco em longo prazo, realizando um trabalho de maneira mais organizada e profissional, é possível visualizar mais consistência de resultados.
Nesse segundo caso, temos produtores rurais que já entenderam que não se trata somente de produzir e vender. Mas sim de construir um negócio sólido, lucrativo e rentável. Isso não é feito do dia pra noite e nem é um trabalho fácil de ser feito, mas é uma forma de criar a própria sorte da fazenda.
Um abraço,
Gabriel