Cartas de Gestão #11

É preciso amar sem paixão

12 de junho de 2020

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É PRECISO AMAR SEM PAIXÃO
É bem provável que você já tenha escutado algo no sentido de que ao fazer algo que se gosta, as coisas ficam mais fáceis.

Concordo plenamente com isso.

Caso não tenha escutado nada a este respeito, deve ter ouvido falar sobre a origem da palavra paixão, certo?

Do grego, pathos, significa paixão, sofrimento.

Bom, caso não tenha ouvido falar nem de uma coisa nem de outra, tudo bem também. Você vai entender o ponto central do texto de hoje.

A questão é: o quanto você gosta do seu negócio rural? O quanto você ama sua fazenda?

Esse sentimento pela empresa rural é extremamente favorável, pois nos ajuda a caminhar em momentos de dificuldade. Quando há um propósito, uma razão e um sentimento por algo, nós automaticamente acabamos ficando mais resilientes para aguentar desaforo.

E, eventualmente, vamos acabar passando por fases ruins. Uma safra com clima péssimo, um mercado pagando muito mal, falhas e problemas operacionais fazem parte do negócio.

Só que o perigo está na paixão, sabe?

A paixão acaba nos deixando em um estado maravilhado. Uma espécie de cegueira causada pelo emoção.

E isso pode ser extremamente prejudicial para o negócio.

É preciso amar o negócio da fazenda, mas não podemos ter paixão. Falo isso no sentido em não nos apegarmos a algo que pode estar funcionando como uma âncora para o desenvolvimento do negócio.

Pode ser uma ideia, um método de se trabalhar ou mesmo algum ativo da fazenda.

É possível que você conheça algum produtor que seja muito apegado a alguma vaca, por exemplo. E por mais que eu mesmo ame vacas, precisamos compreender que do ponto de vista empresarial, se trata de um ativo da empresa.

Além disso, há todo um ciclo biológico neste exemplo, eventualmente, a vaca vai acabar sendo ultrapassada por alguma outra vaca melhor. Pelo menos é isso que seria desejável. Melhoria contínua.

E o mesmo exemplo pode se dar para produtores que possuem certa paixão por algum maquinário. Algum trator, por exemplo.

Há produtores que se apegam a algum trator. E, realmente, pode ser um ótimo trator. Mas, o tempo passa, o trator deprecia e surgem modelos que, em tese, vão ser mais eficientes e com melhorias em relação às versões anteriores.

E também temos o tipo de apego as ideias. Esse pode ser ainda pior.

Pode ser que você conheça também algum produtor que é muito apegado a algumas ideias, que não mudam o que tem em mente por nada.

Onde estaríamos se estivéssemos produzindo do mesmo modo que a 50 anos atrás? Precisamos sempre questionar a tudo, inclusive a nós mesmos.

Será que não poderia fazer isto de alguma maneira diferente e obter um resultado melhor? Como posso tentar da próxima vez? Como vou avaliar para comparar os resultados?

Estes exemplos representam um tipo de paixão que pode ser muito prejudicial para o negócio.

É necessário um olhar crítico e até mesmo frio sobre este tipo de situação.

No fundo, é preciso amar o negócio. Mas, além disso, é preciso amar o desenvolvimento do negócio. Amar a melhoria. Amar a jornada de longo prazo que é um negócio rural.

Ame sua fazenda e tudo que ela representa para você. Ame o negócio que você desenvolve nela. Mas atente-se para a paixão não travar o desenvolvimento dela.

Um grande abraço e ótimo final de semana,

Gabriel

Autor
Gabriel H. Lima
Eng. agrônomo e fundador da Maja Consultoria

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