Caro(a) leitor(a),
O tema do nosso texto de hoje é algo primordial para a sustentação das empresas rurais no longo prazo.
Você irá perceber que o custo de depreciação não chega a ser um custo assim tão relevante para a fazenda, não é algo que tem uma proporção elevada. Mas, é algo que se não for tratado da maneira correta, algo que o produtor não se preocupar, no longo prazo ele vai cobrar seu preço. E este sim, vai ser caro.
Outro ponto importante de se entender, antes de partirmos para os pontos mais fundamentais, é que nós tratamos aqui da depreciação do ponto de vista gerencial. Digo isso, pois do ponto de vista contábil há algumas diferenças no tratamento.
A depreciação do ponto de vista contábil tem influência na parte tributária, ou seja, pode gerar algum alívio nos impostos dependendo do regime de tributação. O melhor, para estes casos, é consultar um contador para entender e verificar isso.
E do ponto de vista contábil a depreciação tem um período definido, ou seja, um bem vai se depreciar por 10 anos, por exemplo. Do ponto de vista gerencial, não temos isso. O bem segue depreciando até que ele atinja o seu valor de sucata, isto é, um valor que seria relativo a como se fosse um bem que não servisse para mais nada, uma sucata.
Compreendendo estas diferenças, vamos começar entendendo o que é a depreciação. E para explicar, acredito que a melhor forma de entender é utilizando o exemplo de um carro.
Quando vamos comprar um carro, esse carro tem algum valor. Digamos que seja 100 mil reais. Então, para comprarmos o carro precisamos trocar dinheiro pelo carro, ou seja, entregamos 100 mil reais para a concessionária e a ela nos entrega o carro.
Essa é a transação. Trocamos o dinheiro (nosso patrimônio) pelo carro.
Então, perceba que todo ganho ou perda de dinheiro precisa ser medida. Portanto, se você tinha 100 mil reais na sua conta bancária antes de comprar o carro, quando você compra o carro, você vai continuar tendo esses 100 mil reais, mas em forma de carro.
Para facilitar o entendimento, vamos supor que estes 100 mil reais estivessem na sua conta corrente do banco e você não estivesse ganhando nenhum rendimento com eles.
Portanto, no início de algum ano, você tinha estes 100 mil reais e decidiu comprar o carro. Um ano depois, quanto vai estar valendo o seu carro?
Certamente ele vai estar valendo menos, né? Acredito que isso não seja novidade para ninguém. Então, vamos supor que depois de um ano seu carro esteja valendo 80 mil reais.
Ora, você tinha 100 mil reais no início e depois de um ano você tem apenas 80 mil. Para onde foram os 20 mil reais da diferença?
Esta é a depreciação.
A depreciação é a redução, a perda do valor patrimonial dos seus bens. E ela acontece com todas as máquinas, equipamentos, construções e benfeitorias da fazenda.
Portanto, estes itens que citamos acima, representam um patrimônio da fazenda. É um patrimônio (dinheiro!) do proprietário que está lá em formato de tratores, máquinas, galpões, cercas e etc.
E a depreciação é algo que vai completamente no sentido oposto ao objetivo de todas as empresas. O objetivo central das empresas (sejam rurais ou não) é o crescimento patrimonial de seus proprietários (ok, podem existir diversos outros objetivos secundários, mas no fim das contas o objetivo central é o que é).
Então, o que acontece é que este patrimônio vai reduzindo seu valor ano após ano. Essa redução de valor é que nós consideramos como um custo.
Podemos voltar um pouco no exemplo do carro lá do início. Os 20 mil reais de diferença entre os 100 mil iniciais e os 80 mil depois de um ano representam um custo. Se você tinha 100 mil antes e agora tem 80 mil, houve uma perda (um custo) de 20 mil reais.
Este é o custo da depreciação que nós precisamos considerar antes de calcularmos o lucro líquido da fazenda. E, infelizmente, poucos produtores realizam essa conta.
Mas você poderia me perguntar: por qual motivo eu preciso colocar esse valor como um custo? Já que não vou ter que pagar para ninguém isso?
Isso é uma verdade. Nós não precisamos pagar o custo de depreciação para ninguém. Chamamos este tipo de custo de "custo não-caixa", pois não há movimentação de dinheiro. Pode ser chamado de custos não-desembolsáveis também, pois não há um desembolso.
Mas note que é interessante que você enxergue esse custo como uma despesa que a fazenda precisa pagar para ela mesma!
O motivo pelo qual precisamos levar em consideração o custo de depreciação é que no longo prazo ele vai ser importante, pois vamos precisar renovar os ativos. Isto é, se compramos um trator hoje, daqui a um determinado período de tempo, este trator vai estar mais atrasado em relação às melhorias tecnológicas, provavelmente vai estar tendo um custo maior com manutenções e seu rendimento vai ser pior do que os modelos mais novos. Portanto, para a manutenção do bom desempenho da fazenda é interessante que haja uma renovação desses bens que depreciam.
E para tentar ilustrar isso, eu vou pegar uma imagem que usamos em um texto enviado algumas semanas atrás de título "Margem é Margem. Retorno é Retorno.", no qual explicamos as diferenças entre margem e rentabilidade.
Eis a imagem (caso não tenha lido o texto em questão, não se assuste com este retorno dos sonhos de 3% ao mês, foi um apenas exemplo para entendermos o tema central do texto):