Cartas de Gestão #41

Como não perder o controle da fazenda

15 de janeiro de 2021
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COMO NÃO PERDER O CONTROLE DA FAZENDA
Acredito que todos nós, seres humanos, temos um desejo para controlar todos os aspectos de nossas vidas.

É uma algo natural querer ter o controle. E isso não é diferente para os proprietários de empresas rurais.

Por um lado, isso é bom. Mas, por outro, pode se tornar algo muito ruim.
E uma das coisas que mais podemos encontrar em fazendas são proprietários que querem cuidar de tudo o tempo todo. Querem estar por dentro de tudo, sempre tomar todas as decisões, sempre sugerir que o seu jeito é melhor jeito e tentar controlar tudo nos mínimos detalhes.

O problema é que tudo isso pode acabar levando as coisas para o sentido oposto. Ou seja, pode fazer você perder o controle da sua fazenda.

E com o passar do tempo, isso acaba se tornando um problema sério que pode simplesmente cortar pela raiz todo e qualquer desenvolvimento da sua fazenda.

Quando pensamos em desenvolver a fazenda, estamos pensando em realmente desenvolvê-la como um negócio, como uma empresa. E essa evolução demanda que os gestores foquem nas funções que ele PRECISA e DEVE desempenhar, enquanto as outras pessoas envolvidas realizem seu trabalho com autonomia.

Essa prática de querer gerenciar tudo é conhecida como microgerenciamento e existe vários estudos que demonstram o quão prejudicial ela é para os negócios.

No meu modo de ver, temos dois problemas principais com esse método de gestão e pode ser útil você analisar a sua fazenda para descobrir se estes problemas estão acontecendo ou não.


Problema 1 – Prejudica o crescimento do negócio

Poxa, isso é algo que deveria ser óbvio, mas eu acredito que muitos se esquecem.

Todos os gestores de fazendas devem pensar em crescer a sua empresa rural. Ou você cresce ou você morre. Isso é Phil Knight, fundador da Nike, te lembrando sobre a importância de pensar em crescimento.

Mas é algo humanamente impossível crescer de maneira consistente quando se é um gestor que faz microgerenciamento.

Chega um determinado ponto em que não é humanamente possível controlar tudo quando se tem um negócio com um tamanho considerável.

Seja por questões de tempo (nossos dias só tem 24 horas e nós precisamos dedicar tempo a outros aspectos de nossas vidas também) ou seja por questões de eficiência.

Portanto, se você realmente pensa em desenvolver sua fazenda como um negócio, em busca de lucros cada vez maiores e procurando atingir todos os seus objetivos de longo prazo, vai ser necessário você adotar um modo de gerenciar a fazenda que dê mais autonomia para todos os outros envolvidos no negócio.

Uma das coisas que eu gosto de dizer é: deixe que os outros (funcionários e familiares) trabalhem à vontade, deixem eles tomarem decisões, dê autonomia para fazerem as coisas do jeito deles. E somente cobre resultados. Pois é isso que importa.

Não interessa muito se uma pessoa vai fazer alguma coisa do jeito A, B ou C. O que importa é o resultado. Se o resultado foi bom, ótimo. Se foi ruim, aí é hora de chamar para uma conversa e entender o que aconteceu e sugerir melhores alternativas.

Portanto, para este primeiro problema, uma das maneiras de você avaliar a se a sua fazenda precisa melhorar nesse aspecto ou não é se perguntando duas coisas:

i) as demais pessoas que trabalham no negócio, têm autonomia para trabalhar ou tudo precisa acabar passando por você?

E ii) se a sua fazenda fosse 3 vezes maior do que é hoje ou então se você possuísse mais 2 outras fazendas, você iria conseguir gerenciar tudo trabalhando de maneira saudável, ou seja, sem trabalhar 15 horas por dia?

Acredito que a resposta para estas duas perguntas possam te ajudar a analisar esse aspecto sobre o seu negócio.


Problema 2 - Desmotivação de quem trabalha junto

Esse segundo problema também é gravíssimo.

Pare por um minuto e reflita sobre o quão desmotivante é trabalhar em uma fazenda em que seu papel sempre está sendo direcionado por outra pessoa? Na prática é como se o trabalhador fosse uma "máquina" e estivesse cumprindo tudo o que o operador dessa máquina determina.

Isso diminui o engajamento, reduz o senso de responsabilidade e gera desmotivação nas pessoas.

Sempre falamos aqui que devemos pensar em fazendas como negócios de longo prazo. E como você acha que seria o desempenho de um funcionário que trabalhasse sem autonomia para tomar decisões, sem perspectivas de crescimento profissional e pessoal por um período de 10 anos?

É claro que o desempenho dele iria cair com o passar do tempo.

Portanto, para este segundo aspecto, procure se questionar se as pessoas que estão envolvidas com o seu negócio possuem engajamento, se estão se sentindo responsáveis pelos trabalhos que estão realizando e se possuem perspectivas de crescimento profissional e pessoal com o trabalho na fazenda.

São questões chaves que vão te ajudar a entender se a sua fazenda está ou não em uma situação de microgerenciamento.

Talvez, em questões empresariais, para ter mais controle sobre o negócio, será preciso abrir mão de querer controlar tudo.

Um grande abraço,

Autor
Gabriel H. Lima
Eng. agrônomo e fundador da Maja Consultoria

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