Cartas de Gestão #17

Chernobyl, decisões e a pior dívida para a sua fazenda

24 de julho de 2020

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CHERNOBYL, DECISÕES E A PIOR DÍVIDA PARA A SUA FAZENDA
É provável que você conheça a história do famoso acidente nuclear que ocorreu na cidade de Chernobil, em abril de 1986. Caso não conheça, tudo bem. Acredito que vai conseguir entender perfeitamente o ponto do texto de hoje.

Eu particularmente conhecia a história superficialmente. Nunca foi algo que chamou tanto assim minha atenção.

Até que eu assisti a série Chernobyl, disponível na plataforma de filmes e série da HBO.

A série é espetacular. Qualquer nota menor do que 10 seria apenas por capricho. As imagens são impressionantes e a riqueza de detalhes te deixa vidrado nos 5 episódios da série.

Mas, quesitos cinematográficos à parte, há algo muito valioso que podemos extrair da série e que tem elevada importância para a gestão de fazendas.

Há algo chamado de dívida de gestão. Este nome não foi eu que dei. Apenas peguei do livro O Lado Difícil das Situações Difíceis, de Ben Horowitz.

Vou preferir explicar o contexto do que ocorreu na série para exemplificar do que se trata esta dívida e como ela se relaciona com a gestão da fazenda.

De forma bem resumida, o que ocorreu em Chernobil foi um acidente nuclear desencadeado por uma série de erros e negligências.

Tudo começou por negligência de quem estava no comando da usina na época. Sem dar ouvidos e atenção ao que os dados mostravam, quis seguir com suas medidas de toda forma, até que a coisa literalmente estourou.

Posteriormente - e aqui é que temos a criação da dívida de gestão - veio a parte de uma sequência de decisões erradas tomadas pelo governo soviético na época.

Diante da tragédia já posta, tentaram contornar a situação para amenizar. Tudo bem até aqui.

Mas o acontece é que diante de situações extremas e, eventualmente, vamos precisar tomar algumas decisões importantes na gestão de uma empresa rural, é preciso colocar em perspectivas as consequências e resultados no curto e no longo prazo.

O governo soviético - e este é o fato que apontam como maior culpa por todos os problemas ocorridos na cidade e na região mesmo anos depois do acidente - demorou DEMAIS para: primeiro, tomar uma decisão sobre o que fazer; e segundo, notificar as pessoas e os demais órgãos sobre a gravidade do problema.

Essa demora, principalmente a de avisar as pessoas e instituições sobre a seriedade da situação criou uma dívida de gestão monstruosa no longo prazo.

Claro que quem pagou essa dívida não foi o governo soviético. Quem paga a conta dos políticos é o povo, nós. É assim em todo lugar do mundo.

Quando estamos diante de situações extremas e precisamos tomar uma decisão importante, o que Ben Horowitz sugere é para tomarmos a decisão que privilegie o longo prazo. SEMPRE!

Segundo o autor, quando se toma uma decisão em que pode haver um benefício ou mesmo até uma perda menor no curto prazo, em troca de alguma situação pior no longo prazo, não tome esta decisão. Ou tome a decisão que evite essa situação.

Quando se coloca o curto prazo em privilégio ao longo prazo, cria-se uma dívida de gestão. E a conta dessa dívida chega no futuro. E com juros!

E eu já vi - e na verdade, ainda vejo - isso acontecer aos montes na gestão de fazendas.

Conheço dois casos muito emblemáticos que estão na minha memória e servem como uma luva para exemplificar. Resguardo os nomes por privacidade.

O primeiro é de um produtor de agricultura que, por uma sequência de decisões erradas, retiradas de capital e de lucros excessivas da fazenda, acabou em uma situação em que ele se via obrigado a produzir para não quebrar.

E o pior é que começou com o crédito rural (uma ótima ferramenta, diga-se de passagem, quando bem usada) e com os recursos disponíveis, surgiram algumas decisões erradas, como troca de camionete com o capital da fazenda, por exemplo.

Anos depois, ele estava numa posição de ter que pegar um novo crédito para produzir e evitar a falência.

O outro exemplo é na pecuária.

O produtor constatou que parte do seu rebanho estava com brucelose e tuberculose. Se você não sabe, a tuberculose quando diagnosticada em bovinos não há tratamento, cura, remédio ou vacina. A solução é o abate, mas não o abate no frigorífico ou para consumo. A lei determina que os animais devem ser sacrificados.

Como os animais são ativos da fazenda, haveria uma perda considerável de ativos (capital) sem nenhuma geração de receita.

Entretanto, o produtor decidiu postergar a decisão de controle sanitário.

Anos depois, com muitos abortos e mortes que travavam o desenvolvimento da fazenda, o problema ainda persistia, com uma parcela maior do rebanho comprometida e uma bucha muito maior para resolver.

Eu sei o quão complicado é estender o horizonte temporal quando se está no meio de decisões difíceis.

Mas é isso que precisamos fazer. Para evitarmos a criação de uma dívida de gestão é melhor ter um sofrimento no curto prazo em prol de uma melhoria no longo prazo, do que amenizar esse sofrimento de curto prazo.

Se o governo soviético tivesse tomados decisões mais rápidas ao invés de postergar e abafar o caso, muitas vidas poderiam ter sido salvas e o problema amenizado. Se os produtores de exemplo acima tivessem focado mais no longo prazo, mesmo que no curto prazo houvesse um perda ou prejuízo, os problemas futuros teriam sido menores ou até mesmo nem existiriam.

Decisões assim criam uma dívida e uma hora a conta sempre chega. Não tem como fugir...

Amenizando um pouco o clima pesado demais para uma sexta-feira, hoje nós encerramos nossa promoção especial de lançamento da série Gestor Rural.

Existem decisões que são complicadas de se tomar, mas há outras que não precisamos nem pensar muito e essa é uma delas.

Você pode assinar a série pelos próximos 12 meses com um desconto exclusivo. Sem falar nos 20 dias sem compromisso para conhecer o conteúdo antes de definir se realmente vai querer seguir com a assinatura.

Sugiro que ao menos conheça nos 20 dias gratuitos. A oferta especial termina hoje e você pode acessar os detalhes da série por aqui.

Um grande abraço e ótima sexta-feira!

Autor
Gabriel H. Lima
Eng. agrônomo e fundador da Maja Consultoria

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