Cartas de Gestão #20

A diferença entre um bom negócio e um negócio bom

14 de agosto de 2020
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A DIFERENÇA ENTRE UM BOM NEGÓCIO E UM NEGÓCIO BOM
Engraçado como a comunicação pode impactar várias coisas em nossas vidas.

E eu considero isso um dos maiores problemas em fazendas.

A comunicação entre as pessoas envolvidas no negócio precisa ser clara. E para ser clara, ela precisa ser de uma forma que tanto quem fala quanto quem recebe as informações entendam do que se trata.

Mas quando nós falamos X, como saber se a pessoa que ouviu, entendeu realmente X?

Este é um ponto que eu julgo que precisamos avançar muito ainda quando falamos sobre gestão de fazendas. Sobretudo quando estamos pensando em desenvolver uma gestão empresarial na propriedade.

Por exemplo: quando falamos de lucro e usamos somente a palavra "lucro", geralmente, estamos nos referindo ao lucro líquido. E ao conversar com algum produtor/gestor rural que sabe o lucro da fazenda, ele, normalmente, nestas situações, se refere ao lucro operacional.

Pode parecer uma bobeira e mesmo que seja algo pequeno, há uma diferença, entende?

O mesmo acontece entre margem de lucro e retorno. São coisas diferentes e muitas vezes encontramos produtores tratando margem como retorno.

Fora que existem diferentes tipos de margens e diferentes tipos de retornos.

Mas o ponto central do texto de hoje nem é tanto neste aspecto.

O que pensei em conversarmos hoje é sobre bons negócios e negócios bons.

Veja, eu acredito que fazendas, de uma maneira generalizada, são negócios bons.

Demanda resiliente, não há dificuldade para se realizar a venda da produção, não há tanta preocupação com marca, branding e relacionamento com o público, não há uma necessidade de se trabalhar um pós-venda e nem que se preocupar com concorrentes.

É claro que há pontos difíceis e desfavoráveis também. Nem tudo são flores.

Mas ser um negócio bom, não quer dizer que, necessariamente, será um bom negócio.

Podemos ter negócios bons que não são bons negócios.

E o que diferencia isso é "aquela pecinha entre o banco e o volante". Ou seja, quem está na direção.

Isso é tão verdade que a qualidade da gestão pode transformar um negócio ruim em um bom negócio.

E da mesma forma, pode haver negócios bons que se tornam maus negócios.

De maneira bem resumida e estendendo um pouco o ponto de vista, é isso que poderíamos considerar a geração de valor do negócio.

Tudo vai se resumir a isso quando estamos falando de gestão, negócios, empresas e investimentos.

Quanto de valor, quanto de riqueza, o gestor consegue gerar?

Isso é particularmente complicadíssimo! Mas, óbvio, se fosse fácil o mundo seria um lugar perfeito e talvez nem estivéssemos aqui usando nosso tempo para falar de gestão de fazendas.

Porém, quando conseguimos ter um bom negócio em um negócio bom, a combinação pode ser muito poderosa no longo prazo.

Basicamente foi isso que aconteceu na década de 90 e no início do século com a expansão da fronteira agrícola para áreas no centro-oeste.

Grandes produtores e investidores do sul e sudeste conseguiam gerar valor com as propriedades e partiam em busca de regiões ainda muito baratas mais ao norte do país.

Em tese, é o mesmo que vem acontecendo atualmente com aberturas de áreas ainda mais ao norte e nordeste. A sigla MATOPIBA já está bem difundida e representa os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, que vêm crescendo muito no agronegócio.

Mas, bem, o tempo passa né? E o nível de competitividade hoje é outro.

No início dos anos 2000, produzir 35-40 sc/ha de soja era excepcional. Hoje é o de praxe e, talvez, o mínimo para suprir os custos.

Naquela época era quase uma obrigação a fazenda possuir uma verdadeira frota de maquinários para a operação acontecer e, consequentemente, arcar com todos os custos do capital imobilizado. Hoje há propriedades que produzem com 100%, ou algo próximo a isso, das operações com máquinas terceirizadas.

As coisas mudam. E daqui a 10 e 20 anos vamos estar em uma outra realidade também.

Entretanto, o que não muda é que bons negócios são aqueles que o gestor consegue gerar valor. Sendo ou não um negócio bom.

E no ambiente atual, a capacidade administrativa se tornou um diferencial ainda maior.

Quando se coloca essa diferença em termos acumulados por vários anos, é possível enxergar um abismo no desenvolvimento do negócio e na geração de valor.

Procure se perguntar se a sua fazenda (caso você seja produtor) está preparada e gerando valor. Se você está conseguindo desenvolver uma gestão que seja séria e empresarial.

Caso não seja produtor, mas atue com fazendas, procure se perguntar se está contribuindo para a geração de valor da fazenda. Tente desenvolver ao máximo a visão empresarial do produtor. Converse com ele nos termos certos, faça contas e mostre a ele que quando se tem um negócio bom, fica muito mais interessante desenvolver um bom negócio.

Antes de terminar, não poderia deixar de lembrar que estamos finalizando as inscrições do Gestão Profissional de Fazendas.

Se for do seu interesse, desenvolver uma gestão empresarial na fazenda com foco na geração de valor, sugiro que agarre a oportunidade de se matricular nas últimas vagas do curso .

Um grande abraço e ótimo final de semana,

Autor
Gabriel H. Lima
Eng. agrônomo e fundador da Maja Consultoria

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